I Jornada de Debates
na Mineração
campinas, 27 de novembro de 2019

O início do século XXI foi marcado pelo crescimento da indústria mineral brasileira, impulsionada pelo “boom das commodities”. Esse modelo de desenvolvimento econômico, focado em manter o superávit primário a partir do equilíbrio da balança comercial, aproveitou-se do momento de valorização do real e priorizou as exportações de produtos do setor agromineral a transformações estruturais das bases da economia. Essa política acabou por consolidar uma posição neoextrativista e periférica da economia brasileira no mundo.

A exaustão das jazidas mais superficiais e em locais com mais acesso à logística levou ao avanço da chamada ‘fronteira mineral’. Dessa maneira, a mineração foi adentrando nos territórios brasileiros, derrubando florestas, construindo barragens, estradas, ferrovias, e mudando drasticamente a relação das comunidades com aqueles territórios. Juntamente com o empreendimento minerário, vem também o aumento dos índices de violência, criminalidade e prostituição. Aumentam os conflitos pela terra e pela água. Comunidades tradicionais, povos indígenas e assentamentos rurais são expulsos de seus territórios.
Um resultado do “pós-boom” da extração mineral foi o alteamento sistemático de várias barragens de rejeito e, consequentemente, do volume de sedimentos contidos nelas. Minas Gerais conheceu ao menos dois desfechos similares dessa mesma história. Em 5 de novembro de 2015 ocorreu o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, sob responsabilidade das mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton. Esse, o maior crime ambiental da história desse país, resultou na morte de 19 pessoas, além do despejo de cerca de 33 milhões de toneladas cúbicas de rejeito de mineração de ferro na cabeceira da bacia do Rio Doce, o segundo rio mais importante de Minas. O segundo grande rompimento ocorreu em 25 de janeiro de 2019, a Barragem da Mina do Córrego do Feijão, também de responsabilidade da Vale, se rompeu, matando 245 pessoas e deixando 25 desaparecidas. Dessa vez, o rio afetado foi o Paraoapeba, afluente do Rio São Francisco, o maior e mais importante do estado. Esses dois rompimentos causaram danos e prejuízos sociais e ambientais sem precedentes na história.
A realização da I Jornada de Debates na Mineração emerge com o intuito de aprofundar o debate sobre a ‘questão mineral brasileira’, desde o mundo do trabalho e do consumo, aos conflitos territoriais advindos da superexploração da natureza e do trabalho na atividade mineradora. Ao mesmo tempo, faz-se necessário construir ações conjuntas e simultâneas para repercussão interna, no ambiente acadêmico formal, que fortaleçam a perspectiva da “soberania popular na mineração e da defesa dos bens naturais do povo brasileiro”, e externamente, fazendo uso de meios de comunicação diversos e de mídias alternativas.