top of page
  • Foto do escritorBárbara Zambelli

Minas Gerais: percepção pública das geociências e desafios para efetiva comunicação e divulgação

Atualizado: 18 de jul. de 2021

Sou nascida e criada em Minas Gerais, o mais tradicional estado minerador do Brasil e reconhecido internacionalmente pelos desastres ambientais decorrentes dos rompimentos das barragens de rejeito de Fundão e Brumadinho. Estudei engenharia geológica em Ouro Preto, cidade fundada a partir da descoberta de grandes jazidas de ouro no século XVIII e que, ainda hoje, é extremamente dependente da mineração, tendo no minério de ferro a principal fonte de arrecadação municipal. Apesar de toda a história e tradição minerária, muitas pessoas ainda não tem ideia do que é geologia. Eu mesma não tinha ideia antes de entrar na universidade.


Uma pesquisa sobre percepção pública das geociências foi realizada em Campo Belo, uma cidade com 54.000 habitantes localizada no sudoeste do estado de Minas. Baseada na aplicação de questionários, a pesquisa reuniu quase 400 respostas, dentre alunos do segundo ano do ensino médio e professores de diferentes áreas, de escolas públicas e privadas. Os resultados mostraram que os alunos tiveram muita dificuldade para responder a questões simples sobre geociências (como a idade da Terra ou citar o nome de um mineral). Além disso, como esperado pelos professores, os alunos se mostraram incapazes de relacionar as geociências com o ambiente a sua volta. Apesar dessa pesquisa apresentar caráter local, ela nos dá uma pista de como as geociências são percebidas no estado.


Mas por que conectar as comunidades com conhecimento geológico é tão importante?

A geologia é a base de tudo! Para produção de alimentos nós precisamos de solo, água e fertilizantes minerais. Para construção civil, precisamos de recursos como aço, cimento, cascalho e areia. Para além disso, precisamos também de escolher adequadamente o local para a construção, evitando áreas de alto risco geológico-geotécnico, como deslizamentos de terra e alagamentos, por exemplo. Precisamos de recursos minerais para o desenvolvimento de novas tecnologias e fontes de energia limpa. Algumas regiões dependem exclusivamente de água subterrânea – logo, conhecimento hidrogeológico é crucial! Resumindo: Geologia está em tudo!

Trazer essa percepção para a sociedade é vital para promover o consumo consciente e práticas de reciclagem (tendo em vista que os recursos minerais são finitos), aumentar a resiliência de comunidades, auxiliar no planejamento urbano e na gestão de recursos hídricos, para citar alguns pontos.


Então, como comunicar geociências de maneira efetiva?

Dentro do meu contexto (Minas Gerais), vejo que o conhecimento geológico não é tangível para a maior parte da população. Além disso, a comunicação e divulgação científica são negligenciadas pelos cientistas. Após pesquisar, participar de conferências e conversar com pessoas de diferentes contextos, acredito que a melhor maneira de aproximar os cientistas e a população é, antes de qualquer coisa, entender seu público alvo (histórico, costumes, cultura, tradições, etc). Então decida se você é a melhor pessoa para acessar aquela comunidade. Tente simplificar o vocabulário e evite jargões. Faça uma apresentação que seja clara, simples, ilustrativa, científica e lúdica, na medida do possível.


Comunicação e divulgação científica tem o poder de encurtar distâncias, conectar pessoas, empoderar comunidades, trabalhar para a redução de riscos e promover a valorização dos recursos e patrimônio geológico. Vamos juntos trazer o conhecimento geológico para além dos muros das universidades!




Texto originalmente publicado em 28 de maio de 2019 em:

https://blogs.egu.eu/network/gfgd/2019/05/28/a-mining-state-in-brazil-without-geological-knowledge/

Bárbara pode ser contatada pelo email ba.zambelli@gmail.com, está nas redes sociais como @taiobarbara.

Sobre a autora, acesse aqui.

66 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page